Há 30 anos que as descargas ilegais de esgotos no Rio ALMONDA e efluentes industriais não tratados no rio ou
nos seus afluentes continuam , sem que
as autoridades consigam pôr fim a esta catástrofe ambiental.
Foram investidos dez milhões de euros na requalificação das estações de
tratamento de águas residuais (ETAR) do concelho de Torres Novas, que o rio
atravessa e não resolveram o problema.
Nas ribeiras da Serradinha e da Boa Água, na zona industrial do concelho, a
água corre castanha, nalguns sítios esverdeada, noutros em tons de vermelho,
mas sempre oleosa e com um cheiro nauseabundo. No leito escuro e enlameado
não há vestígios de flora e muito menos de peixes, que têm morrido aos milhares
nos últimos anos.
As laranjeiras plantadas junto à ribeira secaram, o milho só não seca porque
é regado com a água do poço
“Temos aqui um problema de saúde
pública”, alerta António Gomes, deputado do Bloco de Esquerda (BE) na
Assembleia Municipal de Torres Novas. “A situação nunca foi boa, mas pode
dizer-se que recuámos algumas dezenas de anos” nos últimos meses, considera. Em
causa estão as alterações introduzidas nas ETAR do concelho, que aumentaram as
exigências no que toca à qualidade dos efluentes industriais recebidos para
tratamento nas estações. “As fábricas têm que fazer o pré-tratamento das suas
águas residuais mas muitas não o fazem”, afirma António Gomes.
“Pedro Ferreira garante que estão identificados “vários pontos de descarga”
ilegal no concelho, alguns “escondidos debaixo da terra e a atirar para o rio”,
e que muitos deram já origem a processos de contra-ordenação.
Voluntários contra a poluição
A população tem-se desdobrado em iniciativas de protesto e há mesmo quem se tenha posto ao caminho à procura dos prevaricadores, investigando por conta própria e denunciando os casos nas redes sociais e através de vídeos publicados no Youtube. Grupos de voluntários juntaram-se até, nos últimos dias, para limpar as margens dos afluentes e para alertarem as autoridades caso suspeitem de novas descargas.
A população tem-se desdobrado em iniciativas de protesto e há mesmo quem se tenha posto ao caminho à procura dos prevaricadores, investigando por conta própria e denunciando os casos nas redes sociais e através de vídeos publicados no Youtube. Grupos de voluntários juntaram-se até, nos últimos dias, para limpar as margens dos afluentes e para alertarem as autoridades caso suspeitem de novas descargas.
Contactada pelo PÚBLICO, a direcção da empresa negou genericamente
quaisquer culpas no estado do Almonda e dos seus afluentes, atribuindo a
terceiros, não identificados, a responsabilidade pelas descargas feitas nas
proximidades das suas instalações. Por escrito, a empresa disse não estar
disponível para prestar declarações por estar em curso um processo judicial
sobre este assunto.
O rio atravessa a fronteira entre os dois concelhos na zona do Paul do
Boquilobo, reserva natural e a primeira em Portugal a ser classificada pela
UNESCO como reserva da Biosfera, em 1981. Quando chega a esta área protegida, o
Almonda é uma massa de água pestilenta, oleosa, verde e esbranquiçada.
“Os peixitos aqui morrem todos”, atesta Francisco, 54 anos, quase todos
passados a guardar ovelhas. Tem a seu cargo 320 animais, que andam todos os
dias pelos caminhos da reserva, e não precisa de análises para saber que o
estado do rio não é bom. “É de uma fábrica, eles mandam aquilo de noite, de
manhã é um pivete”, descreve. Mas a indústria não é a única culpada.
Texto adaptado de uma notícia do
jornal Público de 12/07/2015
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